No Sul do Brasil existe um povo, conhecido por gaúchos, em torno da sua origem existem muitas lendas, esta é uma delas!Quando caiu o último reduto árabe na Espanha, alguns mouros, falsamente convertidos em novos cristãos, buscaram morada na América. Ligados à alquimia, trouxeram com eles sua princesa e o desejo de aqui "alçar de novo a Meia-lua sobre a Estrela de Belém", isto é, fundar um país mulçumano.
Estava escrito: "Serás o meu par, quando quebrado o encantamento, do nosso sangue e de nossa carne, nascerá uma nova gente... se a cruz do teu rosário não me esconjurar!"
Quando as sombras finalmente desceram sobre a aldeia, ele não se sofreu: destampou a guampa para ver a Teiniaguá. Aí, o milagre: Ela se transformou na princesa moura, que sorriu para ele e pediu-lhe vinho, com os lábios vermelhos. Ora, vinho só o da Santa Missa. Louco de amor, ele não pensou duas vezes: roubou o vinho sagrado e ofereceu para que ela o bebesse. Beberam e amaram-se durante toda a noite.
No outro dia, o sacristão não prestava para nada. Mas, quando chegou a escuridão, tudo se repetiu. E assim foi, até que os padres finalmente desconfiaram, e numa madrugada invadiram a cela do sacristão. A princesa moura transformou-se em Teiniaguá e fugiu para as barrancas (margens íngremes) do rio Uruguai, mas o moço, embriagado pelo vinho e pelo amor, foi preso e acorrentado. Como o crime era horrível - contra Deus e a Igreja - foi condenado a morrer no garrote vil, na praça, diante da igreja que ele tinha profanado, para que todos vissem e aprendessem a lição.
No dia da execução, todo o povoado se reuniu diante da igreja de São Tomé. Então, lá das barrancas do rio Uruguai, a Teiniaguá pressentiu que o seu amado corria perigo. Com todo o poder da sua magia, começou a procurar o sacristão, por onde passava abria rombos e levantava a terra, da fúria da Teiniaguá originou-se, vales enormes, montanhas e serros, conhecidos hoje em dia por Serra do Jarau. Chegou à igreja na hora que o carrasco iria apertar o garrote no pescoço do sacristão. Ouviu-se um estouro muito grande. Nessa hora, parecia que o mundo inteiro viria abaixo, houve fogo, fumaça e enxofre e tudo afundou em uma confusão e desapareceu. Quando as coisas clarearam, a Teiniaguá tinha libertado o sacristão e voltado com ele para as barrancas do rio Uruguai.
Eles atravessaram o rio e ficaram uns três dias perto do povoado de São Francisco Borja. Procuraram um lugar afastado, onde pudessem viver em paz. Encontraram no Quaraim (hoje Quaraí), na Serra do Jarau. Descobriram uma caverna muito funda e comprida. E lá foram morar. Essa caverna, no alto da Serra, ficou encantada. Virou uma Salamanca, que quer dizer "gruta mágica", a Salamanca do Jarau. Quem tivesse coragem pderia entrar lá, passaria por sete provas e se conseguisse sair, ficaria com o corpo fechado (imune para o mal e doenças), com sorte no amor e dinheiro para o resto da vida. A Salamanca do Jarau, escondia a Teiniaguá no fundo da gruta e o sacristão guardava a entrada, seria assim por duzentos anos, estava escrito.
Campeando uma boiada, um tropeiro chegou à furna do Jarau. Ele sabia sobre a lenda, que sua avó, uma índia charrua, lhe contava quando era apenas um menino. Sabia também, tudo o que deveria fazer, ela havia lhe contado. Entrou na furna, encontrou um vulto branco e tristonho, saudou-o em nome de Deus, o vulto lhe passou as sete provas, as quais com "alma forte e coração sereno", venceu. Chegou até a Teiniaguá encantada. tocou-lhe a testa e a pedra preciosa. A lagartixa se transformou na Princesa Moura e lhe ofereceu sete escolhas, as quais ele rejeitou a todas rejeitou. Ele queria mais, muito mais e disse para ela:
- Eu te queria a ti, porque tu és tudo."
Voltou à boca da furna e lembrou que: "tendo tido oferta de muito, não lograra nada, por querer tudo." O seu egoismo, arrogância e avareza, fizeram-no esquecer das palavras da avó. Na saída da gruta, recebeu do vulto branco e tristonho, uma moeda de ouro, furada por um condão mágico e a pendurou no pescoço.
O tempo passava e o tropeiro cada vez mais mais rico e sozinho. Passava o tempo cismando com o que lhe acontecia. Sentia-se sufocado com a riqueza e mergulhado em solidão.
Resolveu voltar à Salamanca do Jarau e em nome de Deus saudou o vulto, devolvendo-lhe a moeda.
"- Prefiro a pobreza dantes à riqueza, que não se acaba, é verdade, mas que parece amaldiçoada, porque nunca tem parelha e separa o dono dos outros. Fica-te com Deus."
Pela 3ª vez o nome do Senhor foi pronunciado e assim quebrou-se o encantamento.
O Jarau ficou transparente e o tropeiro viu as labaredas devorando tudo o que havia pela frente. A Teiniaguá se transformou na princesa moura e a moura em uma índia tapuia formosa. O vulto branco e tristonho, transformou-se em sacristão, e este por sua vez, num homem forte e viril.
Aquele par, juntado e tangido pelo destino, foi descendo as coxilhas, até alcançar a várzea limpa, plana e verde, finalmente estavam livres para se amarem.
O tropeiro, deu de rédea e devagar foi descendo as encostas com o coração aliviado. Era pobre como dantes, porém comeria em paz o seu churrasco e em paz beberia o seu chimarrão, em paz dormiria novamente, em paz estaria a sua vida.
A índia tapuia e o seu amado, viverão felizes até o fim do seus dias e do seu amor nasceram os primeiros gaúchos.
Fonte: Livro Lendas do Sul (João Simões de Lopes Neto)
Adaptação: Lena Lopez
A Atriz Juliana Paez, protagonizou a personagem Teiniaguá, na mini-série A Casa das Sete Mulheres, da Rede Globo.
A Atriz Juliana Paez, protagonizou a personagem Teiniaguá, na mini-série A Casa das Sete Mulheres, da Rede Globo.
Que bela história Lena. Quem conhece a serra do Jarau aí no Brasil com certeza nunca mais vai olhar para ela com os mesmos olhos.
ResponderExcluirUma bela lição de vida, dinheiro é necessário, não é o mais importante.
Beijinhos
Lady, concordo plenamente! BJOS
ResponderExcluirEstas lendas que existem um pouco por todos os lugares têm esta magia que nos prende e encanta.
ResponderExcluirEsta é muito linda e revela grande imaginação.
Houve um tempo em que passei algumas madrugadas à espera que o sol despontasse por trás da serra na aldeia do meu avô, a ver se conseguia ver a linda moura encantada que, diziam,passava a noite a fiar estrigas de oiro que se desfaziam em poeira dourada mal o sol nascia e daí esse lugarejo se chamar Pódoiro.
De facto é esse o efeito que tem a 1ª luz do sol por trás daquela serra.
Vocês acreditam que nunca consegui ver a moura? rsrsrss
Como o Menino Jesus... o que eu lutei contra o sono na esperança de ver ao menos os pézinhos a aparecerem na chaminé...
Nada! Milagres, princesas encantadas, sapos que viram príncipes... só acontece com as outras... Quanto sapo eu já engoli e nem assim achei meu príncipe, só me sai plebeu na rifa.
Afffff como eu sofro!
Parabéns, Lena, linda lenda. No Brasil deve haver imensas.
Beijinhos
Gata Vadia :
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkkk
Pois é amiga, não és minha vizinha :))
Bjs
Live
ResponderExcluirkkkkkkkkk
Ainda bem, consta-me que tu detestas vizinhas rsrsss
Bjinhos
Oi Gata, no Brasil há muitas lendas, num pais que teve origem indigena, é impossível não te-las. São várias, cada uma mais bela do que a outra e sempre possuem um signicado que nos faz pensar!
ResponderExcluirBJOS
Lena
ResponderExcluirEm Portugal também há muitas sobretudo envolvendo as mouras encantadas que são sempre criaturas belíssimas e belos príncipes e guerreiros mouros. Tem a ver com a ocupação muçulmana e depois com as lutas da reconquista cristã. Nessas lendas os guerreiros, reis e príncipes sempre se apaixonam perdidamente por mouras... uma cena quase sempre trágica kkkkk
Mas o Brasil tem muita mais mistura cultural, um clima, uma natureza que favorecem estas fantasias lindíssimas. Ainda bem, eu adoro estas coisas do mito, da lenda, do realismo fantástico, bruxas,feiticeiras, duendes, lobisomens, corrilários, peeiras de lobos, fadas,poltergeisters, vampiros etc etc. Para chata chega a realidade.
Bjinhos